domingo, 16 de agosto de 2015

O Barco e a Abyan



O Barco e a abyan –  o dia que marcou definitivamente minha religiosidade.

Nestes últimos meses, tenho vivido experiências intensas. Ampliar a capacidade de compreensão e aprender é algo desgastante e cansativo, mas muito estimulante.
O aprendizado que levará uma vida inteira começou. O desafio está lançado! O quanto conseguirei absorver, compreender, aprender e praticar causa angústia, mas ao mesmo tempo, excita e desafia.
A Tradição borbulha à minha frente, aguçando meus sentidos e meu intelecto. Chama aos brios o aprendiz.
Eis a hora derradeira, eis o que valerá a pena gastar uma vida inteira. Haja coração, mas antes de mais nada, haja pernas, braços, olhos e ouvidos.
Candomblé é aprendizado no trabalho, na prática, no exercício da religiosidade, da Tradição.
O que aprendi lavando panelas? Aprendi o valor do silêncio, da observação, e da hierarquia. A honra de participar da Cozinha das Ayabás foi minha, e a honra do aprendizado foi minha também.
As lições absorvidas no silêncio e no ouvido apurado jamais serão esquecidas.
Durante as horas passadas no Ilê Funfun, fui revisando minha vida, meus referenciais, minhas prioridades. Assistir minhas irmãs, dedicadas diuturnamente ao Axé, fez-me repensar muitas coisas. O que de fato tem valor?
As horas passaram rápidas, nossas preocupações foram sendo substituídas paulatinamente pela concretização das tarefas propostas. Todos, absolutamente todos conseguiram realizar, cada um dando sua contribuição, um grande feito.
O Ilê pronto, na hora certa, as comidas preparadas, os assentamentos alimentados, o branco absolutamente branco. E a grande hora, quando todos os esforços iriam ser apresentados, quando tudo deveria estar certinho, para que nossas irmãs pudessem manifestar seus Orixás, na grandeza de suas forças, estava chegando... os olhos de todos, ansiosos.
Como seria isso? Como elas estariam?
Eu, que nunca tinha ido a uma saída de santo, a uma feitura de santo, ao Candomblé... que pela primeira vez, participei dos trabalhos de um Ilê, e que veria pela primeira vez, a manifestação de 4 Orixás... que júbilo!
Oyá manifestada na minha irmã Aracyauara.
Nanã manifestada na minha irmã Yacyrê.
Ogun manifestado em minha irmã Yaranaya.
E enfim, Obaluayê manifestado na minha irmã Yaranacy.
Meus olhos, minhas emoções!
Senti que minha religiosidade jamais seria a mesma a partir daquele dia.
Meus olhos viam, meus ouvidos ouviam, meus sentidos todos aguçados, em verdadeira alegria, surpresa e estupefação.
Meu intelecto, medíocre diante da grandeza que eu assistia, silenciava.
E cada gesto, cada passo, cada dança dos Orixás manifestos pareciam remexer em minha gavetas internas, minhas memórias longínquas, minha natureza desconhecida. Medo? Não, ALEGRIA.
Esse foi o sentimento que me acompanhou por muitos dias.
E se todos os anos de aprendizado que se avizinham forem assim, que venham. Não vejo a hora!
O dia 01/08/2015 marcou o nascimento de minhas quatro irmãs, mas também simbolizará para mim o meu nascimento como Abyan no Candomblé!
Ibasé Baba mi!!!


PS: demorei tanto para escrever sobre este Barco, porque profunda foi a experiência, e necessitei digerir tudo o que vivi.

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