quinta-feira, 30 de abril de 2015

Run de Ogiyan no Ile Funfun



Quando soube do desejo do nosso Baba em saber qual foi a impressão pessoal de cada filho diante do Run de Ogiyan, comecei a refletir a respeito.
Confesso que me senti incapaz de descrever tudo o que vi e senti.
Como colocar de forma escrita, ensinamentos que se enquadravam apenas na Oralidade, reflexos da Tradição e do trabalho?
Como transcrever emoções que brotaram hora após hora, experiência após experiência?
O que vi no Ile Funfun nestes dias foi o Run de Ogiyan se concretizando, o Run foi a finalização de todo um processo de sacralização da vida profana. Cada irmão, mais novo ou mais velho, cada um com sua aptidão, seu esforço, sua vontade de fazer, de contribuir e de realizar, em conjunto transformaram, construíram, materializaram o próprio Orixá. E no final, cada cantinho do Ile mostrava que a Tradição só se realizava em conjunto, na unidade do Egbe, na força de sua coletividade. E como foi belo o momento da construção. Foi maravilhoso presenciar a dedicação e o envolvimento de todos, a proximidade e a alegria do nosso Baba ao assistir seus filhos absortos em afazeres diversos, todos munidos de um único objetivo, uníssonos com seu sonho e com a força do Orixá.
Sentir-se parte é sentir-se o todo. Para mim, que pela primeira vez participei da cozinha, foi uma experiência inigualável. Um mundo se abriu. Minhas irmãs mais velhas, ensinando e dividindo comigo momentos ímpares e únicos, como por exemplo a benção dada pelo Orixá Ogiyan na cozinha das Yabas. Jamais esquecerei esses momentos.
Agradeço ao nosso Baba a oportunidade do trabalho, e com ele, a ampliação da minha percepção da realidade das religiões afro-brasileiras. Que eu possa honrar esse caminho que me foi apresentado, meu Ori e meu Baba. Axé Baba mi! 
Obá xi!
Obaositalá

Ao participar do Run de Oguian no último sábado, tive momentos de profunda reflexão. Apesar de ouvir de meu Baba que os caminhos dos Orixás, não deveriam serem analisados com o pensamento compartimentado, como se buscássemos uma pretensa lógica que angariamos com a herança do cientificismo. E cada vez que buscava dentro de mim explicações plausíveis a minha percepção racional, vi que acabava me distanciando do Orixá, pois como poderia ter contato com a essência se insistia em procurar formas?
E não era só isso que as reflexões me mexiam interiormente, pois precisava silenciar os “porquês” para ouvir o fundo de minha alma. E isso começou a acontecer quando em um trabalho aparentemente corriqueiro de desfiar os mariwos para este rito, me vi lentamente sendo invadido pelo silêncio do Ilê Funfun como água fresca em terra sêca.
Nas horas seguintes que invadiram a noite, os Deuses foram chegando com suas danças e seus Orins falando de tempos imemoriais. Nestes momentos eles passaram a habitar o mesmo espaço conosco e já não mais existindo o Ayé e o Orun, apenas o grande pano branco e o infinito silêncio...

Axé Baba mi

Axé meu Pai das Alegrias e Realizações! 

Ygbere

sábado, 11 de abril de 2015

Ifá e o Destino - Um caminho para uma vida



Caminho pelos caminhos diversos das Religiões Afro-brasileiras apresentados por meu Baba Pai Rivas e alegremente, filiei-me na TUO/OICD há 8 anos.

Ao longo desses anos, antigos compromissos e novos ares. Vi descortinarem-se diante de mim minhas mazelas, fraquezas, limites, inseguranças, medos. Como se cada véu caído mostrasse o quanto eu ainda tinha por aprender, apreender e compreender. Um a um, os anos me trouxeram grande aprendizado e renovação. 

Disseram-me que o caminho da iniciação é pedregoso, e de fato foram muitas as pedras que machucaram meus pés, mas muitas bênçãos oriundas dos Orixás e dos Ancestrais Ilustres que nos acobertam sempre vieram amenizar e suavizar as dores do renascimento. Plena certeza de que o caminho foi sabiamente escolhido, e que o amparo sempre esteve presente, tornando mais leve e mais suportável todas as etapas da transformação.

Nesta última semana vivi um dos momentos mais impressionantes e memoráveis da minha vida religiosa. E precisei de alguns dias para melhor compreender o alcance daqueles breves momentos. Pai Rivas, meu Baba, o tabuleiro de Ifá, e o meu destino nas mãos de Orunmilá. Hora fatídica, definitivamente determinante em minha vida, a partir daquele momento. Como um ponto, estabelecendo ordem ao caos.

Por dias, desde que o rito foi marcado, alimentei em mim uma ansiedade injustificável. Comecei a me perguntar qual seria o enredo que nortearia meu destino? E eu, que já reconhecia no Orixá Obá minha mãe e energia primordial, comecei a me perguntar como seria se Orunmilá Ifá mostrasse que não mais era minha mãe querida a dona de minha cabeça?   Tantas informações, tantas dúvidas.

Ao entrar naquele Congá, que carreava décadas de história, legítimo representante da Raiz de Guiné, uma grande interrogação me acompanhou.  Nunca mais eu seria a mesma. A partir daquele instante, minha vida mudaria definitivamente. O que fui, o que fiz, tudo, absolutamente tudo, ficaria atrás daquela porta.

As areias daquele chão sagrado estavam diferentes, elas simbolizavam o espaço entre o Orun e o Ayê. Meus pés tocavam meu inconsciente, e cada passo dado em direção ao meu Baba remexia dentro de mim minhas gavetas fechadas, minhas memórias ancestrais. Descortinando, desvelando, revelando. Nem o tempo, nem as memórias apagadas pela reencarnação impediriam o relembrar de um momento, o primordial, aquele momento onde meu Ori foi feito utilizando a matéria doada pelo Orixá que passaria a guiar e ditar meu destino. E mais, os dois outros Orixás que contribuíram para completar meu Ori. ENI-ORIXÁ, EDJI-ORIXÁ e ETA-ORIXÁ. O que tudo isso significaria para mim a partir de então?

Senti-me como uma criança que chega à escola no primeiro dia. Medo, insegurança, mas ao mesmo tempo, curiosidade, interesse pelo novo velho caminho.

Ao olhar meu Baba, e sentir nele a Sabedoria dos Babalawos, apaziguei-me.
No chão de areia, o tabuleiro de Ifá coberto com um pano branco velava o destino. E na medida em que os ikins caíam, via lá o enredo da minha história. Exu, Yabás minhas mães ancestrais, e o velho sábio Pai de todos.

Compreendi de imediato que muito ainda tenho por aprender. A maioria das informações que recebi ainda habitam minha mente, sem compreensão. Mas, de pronto, identifiquei-me. IDENTIDADE. Assim como o RG. Cada fato, meu mediunismo, as entidades que são carreadas com ele, meus amigos. Tudo relacionado e conectado.

Dúvidas??? Ah, muitas além daquelas que eu já tinha. Mas, ao menos já sei em que estrada estou caminhando.


Axé Baba mi. Que eu me torne digna deste caminho e saiba honrá-lo dia após dia.

W. W. da Matta e Silva, Pai Matta, meu avô de Santé, manipulando o tabuleiro de Ifá. Essa foto serve para dirimir qualquer dúvida de que o Ifá está e sempre esteve presente na Umbanda Esotérica. 

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