sexta-feira, 17 de setembro de 2010

No Brasil, 12 milhões de famílias se alimentam graças ao Bolsa Família

Le Monde
Annie Gasnier 
Em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou muitas vezes: ele passou fome em sua infância, em um vilarejo distante no nordeste do Brasil. Uma região ressequida pelo sol equatorial onde, algumas noites, as mães inventam sopas de folhas de cacto para encher a barriga de seus filhos que choram de fome.
O anúncio, no dia 1º de janeiro de 2003, do programa Fome Zero, foi uma das primeiras ações de seu mandato. Oito anos mais tarde, a três meses de deixar a presidência, o chefe de Estado comemora os resultados obtidos: 28 milhões de brasileiros saíram da miséria. Em 2003, 12% da população (22 milhões) sofria com a fome, um índice que passou para 4,8% em 2008 (10 milhões).
O programa de combate contra a fome consiste em uma mensalidade atribuída, sob forma de um cartão de crédito, às famílias que vivem abaixo da linha de pobreza (menos de US$ 1 por dia). O Bolsa Família é hoje distribuído a 12 milhões de lares, ou seja, 50 milhões de pessoas. Seu valor varia em função do número de crianças dependentes que frequentam a escola. Em 2008, o Bolsa Família custou ao Estado US$ 6 bilhões (R$ 10 bilhões), ou seja, pouco menos de 2% do orçamento. Mas trata-se do maior programa de redistribuição de riquezas do mundo.
Desnutrição em recuo de 73%
Houve um debate para saber se seria necessário obrigar os beneficiários a comprar comida com o dinheiro pago. No final a bolsa foi confiada à chefe da família, seja mãe, avó ou irmã, com a convicção de que ela serviria para preencher as marmitas. A desnutrição recuou em 73%.
Essencial, essa bolsa é também considerada insuficiente por Candido Grzybowski, diretor da ONG Ibase: “Ela atendeu à urgência, mas se for suspensa amanhã, essas pessoas ainda morrerão de fome. É preciso complementá-la com reformas estruturais, especialmente na educação, para oferecer um outro futuro às crianças”
“O problema da fome continua sendo uma preocupação para Dilma Rousseff, candidata à sucessão do presidente Lula”, garante o coordenador de seu programa de governo, Alessandro Teixeira. “Se ela for eleita, melhorará o Bolsa Família”. Seu adversário da oposição, José Serra, do Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB), também se comprometeu a manter a bolsa ainda que o PSDB muitas vezes tenha a chamado de “programa assistencialista”. Um estudo do Ibase mostrou que os beneficiários temem que a bolsa acabe.
Muitas vezes citada como exemplo entre autoridades internacionais, a vontade do Brasil também permitiu ao país ter ambições diplomáticas: “O Brasil nunca teria credibilidade no cenário mundial se houvesse ignorado essas terríveis desigualdades sociais com sua população morrendo de fome”, acredita Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático do presidente Lula.
Tradução: Lana Lim

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